SUSTENTABILIDADE

COMO OS GOVERNOS PODEM PROMOVER SUSTENTABILIDADE E AMBIENTES SAUDÁVEIS PARA TODOS OS SEUS CIDADÃOS?

As prefeituras são cada vez mais reconhecidas como líderes nas questões ambientais. Mas uma ferramenta importante que eles usam para promover a sustentabilidade - Compras - às vezes escapa do radar.

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De acordo com Alicia Culver, que lidera a rede sem fins lucrativos Responsible Purchasing Network (Rede de Compras Responsáveis), os governos locais adotaram cada vez mais as compras sustentáveis nas últimas décadas. Os municípios têm orçamentos substanciais para manter e operar seus edifícios, frotas de veículos e outros ativos. Além de escolher produtos que protejam o ambiente local e protejam a saúde de seus funcionários e residentes, muitas cidades e condados estão conscientemente usando seu poder de compra para incentivar práticas sustentáveis no mercado mais amplo.

Um dos aspectos mais desafiadores dessas iniciativas é determinar exatamente quais produtos atendem às metas de sustentabilidade de uma determinada cidade e, depois, compartilhar essa informação com todas as pessoas que precisam dela. As aquisições municipais são frequentemente descentralizadas, o que deixa as decisões de compra nas mãos de funcionários com diferentes graus de conhecimento sobre sustentabilidade. Ao mesmo tempo, a enorme variedade de produtos disponíveis, junto à proliferação de etiquetas e certificações ecológicas - umas mais rigorosas do que outras - podem tornar difícil para funcionários e pessoas contratadas para projetos urbanos (por exemplo, arquitetos) saberem por onde começar ou em que informações confiar.

Isto é particularmente verdadeiro para categorias de produtos que são especialmente complexas - carpetes, por exemplo. Mesmo certificações de terceiros respeitadas não abordam uma série de preocupações acerca da fabricação de carpetes, de acordo com Alicia.

“O carpete tem sido muito desafiador porque existem múltiplos atributos ambientais, às vezes concorrentes, como conteúdo reciclado e toxicidade”, diz ela.

Vários anos atrás, São Francisco decidiu encarar este desafio. Em 2016, quando o código municipal de construção ecológica estava sendo atualizado para se alinhar à LEED v4, a cidade aproveitou a oportunidade para analisar suas práticas de compra para o design de interiores.

"Começamos a procurar maneiras de forçar a agenda dos acabamentos interiores mais saudáveis", diz Jen Jackson, que lidera o Toxics Reduction and Healthy Ecosystems Program (Programa de Ecossistemas Saudáveis e Redução de Tóxicos) ​​do departamento ambiental da cidade, o SF Environment. "Por o carpete ser uma parte tão, tão grande de um interior, abordamos ele primeiro."

Esta iniciativa foi construída com base em anos de experiência em compras ecológicas. Desde 2005, o SF Environment tem liderado um esforço ambicioso para direcionar funcionários municipais a opções sustentáveis ​​de produtos de limpeza, computadores e outras compras comuns. Ele publica listas de produtos aprovados em um site de acesso público, o sfapproved.org, que se tornou um recurso importante tanto para funcionários municipais quanto para organizações externas.

"As outras pessoas estão sempre observando São Francisco", diz Alicia. “Muitas outras cidades estão seguindo seus passos, quer usem a lista SF Approved (Aprovados pelo SF) ou suas especificações. Eles definitivamente estabeleceram um padrão ouro para o trabalho que fazem em compras sustentáveis.”

No início do projeto para carpetes, o SF Environment analisou as certificações de terceiros com listas de produtos existentes para determinar se poderia simplesmente copiá-las para a SF Approved. Mas descobriu que, embora a certificação Cradle to Cradle™ atendesse muitas de suas necessidades, ela não encaixava perfeitamente. Particularmente, havia produtos químicos adicionais que a cidade de São Francisco queria garantir que fossem banidos de sua seleção de compra.

"Passamos mais horas despertas no trabalho do que em casa, e muitos de nós trabalhamos em ambientes internos", diz Jessian Choy, uma especialista em redução de tóxicos da prefeitura. "Portanto, podemos estar constantemente expostos a substâncias químicas nocivas."

Para resolver essa e outras preocupações relacionadas, o SF Environment decidiu criar sua própria especificação para carpete - uma espécie de Cradle to Cradle™ plus. Trabalhando com Jean Hansen, da empresa de design HDR, começaram pesquisando os processos químicos e de fabricação usados ​​na indústria de tapetes. Kellie Ballew, diretora de sustentabilidade da Shaw, forneceu informações sobre os últimos desenvolvimentos do setor.

O SF Environment pesquisou então os principais fabricantes de carpetes para entender mais sobre suas práticas de sustentabilidade e catálogos de produtos. Consultou diferentes agências municipais sobre suas necessidades e preferências de carpetes, identificando circunstâncias que poderiam justificar um tratamento especial (preservação histórica, por exemplo). Além disso, a equipe conversou com arquitetos e organizações terceirizadas de certificações para entender melhor toda a gama de considerações envolvidas nas decisões sobre pisos. Eles também trabalharam com os fabricantes para obter informações abrangentes sobre os atributos de sustentabilidade de produtos específicos.

Depois de quase dois anos de trabalho, o novo regulamento municipal para compra de carpetes entrou em vigor em março de 2018. Lista parcial de seus requisitos: certificação Silver Cradle to Cradle™; 45% de conteúdo reciclado; e livre de cinzas volantes de carvão, produtos químicos altamente fluorados, antimicrobianos ou retardadores de chamas. "Até onde sabemos, parece ser o mais rigoroso do país", diz Jessian.

Hoje, os visitantes do site sfapproved.org encontram informações detalhadas sobre modelos específicos de carpetes que estão em conformidade com este regulamento. Para Jen Jackson, essa etapa extra de direcionar os usuários para os produtos aprovados ​​é fundamental. "Quando você não tem uma lista de produtos, as pessoas pegam esses critérios, os inserem em seus documentos de arquitetura, e aí você não sabe se eles chegam a ser implementados", ela diz. “Para garantir que os produtos realmente atendem as especificações, você precisa pesquisar a fundo.” E como essa pesquisa demanda muito tempo, recursos e experiência no assunto, isso geralmente não acontece.

Embora São Francisco dedique mais recursos a aquisições do que muitas cidades, ainda se esforça para manter atualizadas suas listas de produtos aprovados. Por enquanto, no entanto, a equipe não vê uma alternativa viável. "O que as pessoas realmente querem, em todos os meus anos fazendo isso", diz Jessian, "é ‘qual é o nome do produto e para quem eu ligo para comprá-lo?’ Eles não precisam necessariamente de tanta informação sobre por que e como algo é bom para eles.”

Essa pressão pode diminuir nos próximos anos, à medida que cresce o reconhecimento da necessidade de listas de produtos verdes gerenciadas coletivamente. Uma iniciativa que está ganhando força é a mindful MATERIALS (MATERIAIS conscientes), uma ferramenta on-line gratuita e publicamente acessível que agrega informações de sustentabilidade de produtos de diferentes fabricantes. Iniciada em 2014 como uma iniciativa interna do escritório de design HKS, hoje é um programa independente executado por um colaborativo de voluntários vindos da comunidade da arquitetura. Embora liderado por designers, também serve a usuários finais (por exemplo, municípios) e outros.

A ferramenta é usada atualmente em mais de 170 países, e mais de 60 novos usuários se inscrevem a cada semana, diz Rebecca Best, que lidera divulgação e engajamento para a organização. Este rápido crescimento tem sido em grande parte impulsionado pelo fato de que a mindful MATERIALS não é afiliada a organismos de certificação específicos e não cobra dos fabricantes para exibir suas informações, ela afirma. Atualmente, são fornecidas informações de sustentabilidade sobre quase 8.000 produtos, um número que pretende crescer para 20.000 até o final do ano.

"Isso é o que realmente precisamos enquanto movimento, o que a mindful MATERIALS está oferecendo", diz Jessian.

Na Responsible Purchasing Network, Alicia Culver também ajuda municípios a identificar maneiras de direcionar seus funcionários para produtos sustentáveis de maneira eficiente e eficaz. Uma estratégia comprovada, segundo ela, é negociar contratos "totalmente verdes" com os fornecedores, a fim de garantir descontos maiores para produtos e serviços sustentáveis. Outra é trabalhar com vendors para mostrar apenas produtos pré-aprovados aos funcionários nos resultados de pesquisa on-line.

Embora atualmente não exista uma maneira de saber com certeza o quanto o movimento das cidades em direção às compras verdes está impactando o mercado mais amplo, Kellie Ballew, da Shaw, diz que iniciativas como essas orientam as decisões dos fabricantes sobre o que fazer e como fazer. 

“Nos fornece aquelas provas concretas que podemos levar à liderança e dizer: 'este é um exemplo do que os clientes estão pedindo, e é assim que achamos que devemos ajustar a fabricação ou o conteúdo ou a composição do produto para mudar no ritmo do mercado.'”

RESOURCES:

http://responsiblepurchasing.org/

https://sfenvironment.org/

https://www.sfapproved.org/

https://www.sixclasses.org/

http://www.mindfulmaterials.com/