SHANNAN BILLINGS AND JOHN STEPHENS

Como nossas decisões causam impacto em todas as escalas - em casa, na comunidade e no planeta?

Poderiamos chamar de um casamento de mentes. John Stephens é o Vice-Presidente de Marketing da Shaw Contract. Shannan Billings é Diretora Sênior de Global Sourcing para a Shaw Industries, empresa-mãe da Shaw Contract. Ele é ex-historiador. Ela não consegue passar por uma reunião sem usar a palavra "molécula" mais de uma dúzia de vezes. Eles compartilham um sistema de crenças, um empregador e sua casa. É um lar unido? Eis o que acontece quando eles se sentam para conversar.

A sustentabilidade é realmente uma prioridade para vocês dois - e um foco importante para sua empresa. Vamos direito ao assunto. O que preocupa vocês?

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JS: Pois é, então, o relógio está correndo, né? Quero dizer, o ano passado teve a maior emissão de dióxido de carbono da história e 18 bilhões de libras de plástico foram jogadas no oceano. Então, há um senso de urgência que acho que todos deveríamos sentir porque há impactos negativos acontecendo globalmente todos os dias. Essa é provavelmente a minha maior preocupação.

SB: Minha preocupação é a nossa cadeia de suprimentos, toda a cadeia até os fabricantes petroquímicos. Eles sabem que precisam mudar. Agora eles percebem que há um fardo significativo à sustentabilidade ou circularidade - e que precisam fazer mudanças. Eles não têm uma resposta realmente boa neste momento, mas já estão no ponto de reconhecer que têm um desafio e que podem apoiar a mudança, mesmo dentro dos materiais existentes. Eles estão começando a repensar suas políticas corporativas gerais sobre lucratividade e a fazer a coisa certa. Nos próximos cinco, dez até vinte anos, essa será uma história interessante de assistir. Fazemos isso já há um tempo na Shaw - conquistando a transparência de todos os ingredientes em nossos materiais. Como podemos estabelecer uma parceria com eles para atingir o objetivo?

Então, você está um tanto otimista de que a mudança está acontecendo. Eles estão começando a ouvir, eles estão começando a falar. O diálogo começou?

SB: Sim, sim. Hoje, a taxa de reciclagem na América do Norte é uma das mais baixas do mundo. E todas as caixas de embalagem que recebemos da Amazon, ou outras, muito convenientes para nós consumidores, são fibras que compõem uma enorme quantidade do fluxo de suprimentos, junto a muitos tipos diferentes de plásticos. Como você tira desse fluxo o que precisa, certificando-se de que não está causando dano daqui para frente? Como você pode capitalizar criando um produto com esse fluxo reciclado? Esse é um desafio real.

Vocês dois têm uma visão comum, mas suas abordagens diferem claramente. Por onde cada um de vocês começa?

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SB: Eu olho para o que podemos fazer na ponta - como obtemos nossos materiais e os tipos de relacionamentos que precisamos construir dentro de nossa cadeia de suprimentos para alcançar a visão que a Shaw tem para sustentabilidade. Nós construímos relacionamentos com fornecedores, a montante de nossos fornecedores e dentro da comunidade de engenheiros e desenvolvedores de produtos inovadores dentro da Shaw, para que possamos alcançar nossos ideais - e o melhor resultado de produto - como uma única voz com múltiplas oitavas e múltiplas amplitudes.

JS: Enquanto que a Shannan é engenheira, eu me graduei em história e era escritor. Então, minha abordagem é mais contar histórias e pensar em ideias. Shannan é muito boa em descobrir como fazer essas ideias acontecerem.

SB: Eu pego a visão dele e vejo que tipo de ação precisamos para alcançá-la. Há uma relação específica que precisamos ter? É uma especificação que precisa mudar? Há uma nova área que precisamos abordar?

Então, você estabelece relacionamentos com base em seu conhecimento técnico e científico?

SB: Sim. O que fez parte da minha formação - funções de desenvolvimento, técnicas, e de fabricação - reflete como eu vejo os materiais e como falo com nosso pessoal técnico, de desenvolvimento de produtos, e de inovação em relação a compreender melhor as metas para desempenho de produto, desempenho em processo e a materialidade do nosso produto acabado. Estamos tentando ver um resultado final que atenda às necessidades do negócio e, ao mesmo tempo, aumente a transparência e a longevidade ou circularidade de nossos materiais.

O que te inspira? O que te eleva?

JS: Para mim, o que é inspirador é que vejo mudanças acontecendo e pessoas que estão fazendo um trabalho muito interessante. Acho que estamos começando a ver que sustentabilidade não é apenas sobre o planeta, é sobre pessoas. E quando você vê que é sobre pessoas, o senso de urgência muda e a pressão por ação acelera. Isso está começando a impulsionar mudanças.

SB: Qualquer coisa que eu possa fazer para ajudar alguém e melhorar as coisas para os indivíduos, para as nossas comunidades e para o meio ambiente. A história que estamos tentando contar é de vida e melhoria e mudança e sustentabilidade, assim como de circularidade. É uma grande aspiração para seguirmos adiante.

Parece que vocês enxergam muitas maneiras diferentes de abordar os problemas em questão. Parece menos assustador, de alguma forma, se a sustentabilidade não for apenas ciência pura ou não estiver apenas acontecendo em uma escala global?

JS: É pessoal. É pessoal e é local. Esta é realmente uma questão de dignidade, humanidade e justiça social, não apenas algo que é impensavelmente amplo ou desconectado de nossas vidas cotidianas.

É muita responsabilidade - mas também deve ser edificante saber que você pode fazer a diferença.

JS: Sim, há um senso de responsabilidade, mas há um grande otimismo no fato de que o trabalho que fazemos pode ter importância em escala global, por causa do tamanho da Shaw Contract e da Shaw Industries como um todo. Quando lançarmos o nosso produto PET Resilient [um novo produto para pisos duros construído com 40% de garrafas PET recicladas pós-consumo], e quando ele for comercialmente bem sucedido, vamos usar muito material residual. Isso terá um impacto significativo.

SB: E o que é interessante sobre o produto PET Resilient, de uma perspectiva técnica, é a oportunidade de usar fluxos de uma instalação de reciclagem de garrafas que não são amplamente utilizados. Normalmente, gostaríamos que o que sai de uma instalação de reciclagem fosse um floco transparente, sem qualquer cor. Mas para o PET Resilient, podemos pegar e usar tudo. O floco multicolorido se transforma em um produto maravilhoso, no qual imprimimos digitalmente, proporcionando ao cliente um valor fantástico.

Que avanços recentes na pesquisa de materiais deixam vocês realmente empolgados?

SB: Os materiais de base biológica são muito empolgantes, utilizar microorganismos para produzir alguns dos químicos à base de petróleo do mercado. Esses são alguns avanços empolgantes, e também qualquer tipo de recuperação de material, utilizando volumes maiores de materiais recuperados, assim como fazemos com o PET Resilient. Como podemos incluir mais conteúdo reciclado nos produtos que usamos?

JS: Lançamos um produto resiliente de base biológica no ano passado; nossos clientes estão pedindo por isso. Há novos materiais inovadores. Mas também, como você pega os processos existentes e os redesenha de uma maneira mais sustentável, mais responsável e que melhore o desempenho do produto? Como consumidores, queremos produtos bonitos, queremos que eles sejam sustentáveis e queremos que eles funcionem. Idealmente, você não quer abrir mão de nada.

SB: Outras áreas que são empolgantes para mim são as relacionadas aos plásticos oceânicos. Essa é uma tremenda oportunidade para desvendarmos.

A narrativa sobre os plásticos oceânicos parece ter evoluído recentemente e agora está atingindo um público amplo, um novo público. Você pode falar sobre isso, John?

JS: Sim. Estamos vendo o poder da narrativa. A evidência visual mostrada na mídia, os números impressionantes, a ideia de que metade do peso do oceano será de peixe e metade poderá ser de plástico até meados deste século. Esse tipo de história realmente provoca uma resposta e motiva as pessoas a agir. Isso dá às pessoas uma ideia da escala dos problemas e as faz pensar: "eu posso fazer algo a respeito". Tentando mudar enquanto organização, tentando causar impacto na sustentabilidade, acho que há muito o que podemos aprender com isso. Como contamos as histórias? Como construímos narrativas que dão às pessoas um insight real, que transmitem a elas um sentido para que entendam o desafio e possam fazer parte da solução como indivíduos?

SB: Seguindo nessa ideia, estamos começando a ver empresas petroquímicas tentando contribuir para mitigar essa situação também. Vimos projetos em que um fornecedor e os usuários finais trabalharam juntos na limpeza de uma praia e, depois, todos aqueles plásticos foram usados em conjunto com outra resina para produzir um novo material para o mercado.

Quais são as perguntas que vocês fazem a si mesmos quando estão embarcando em um novo projeto?

JS: No meu caso é "por quê?". Por que estamos fazendo isso? Para quem estamos fazendo isso? Que tipo de impacto essa iniciativa terá? De quais recursos precisamos para ter sucesso? E então, como você define o sucesso?

SB: Que tipo de suposições estamos perseguindo com o projeto que estamos tentando implementar? Pergunto sobre o "como" e os recursos que vamos precisar. Que tipo de alavancagem vamos precisar além dos recursos que temos internamente? Que tipo de relacionamentos teremos que desenvolver para que esse projeto ou produto seja concluído? E como podemos remover rapidamente qualquer tipo de obstáculo para seguir progredindo?

Então, vamos falar sobre medir o sucesso. Quais são algumas das áreas nas quais vocês fizeram alterações? Que iniciativas os deixam particularmente empolgados ou orgulhosos?

JS: Quando iniciamos o negócio de carpete modular, usávamos base de PVC. Era o padrão da indústria. Mas estabelecemos uma meta - uma missão, mesmo - de desenvolver uma forma mais sustentável de fazer um produto que fosse saudável, seguro e projetado para a circularidade. Desenvolvemos um novo processo e mudamos a forma como fabricamos carpete modular com um material chamado EcoWorx®. É um carpete modular de alto desempenho, projetado dentro do protocolo Cradle to Cradle™. O EcoWorx® otimiza os materiais, o uso de energia e o impacto ambiental, e se tornou nossa matéria-prima dali a diante. Quando chegar hora de os clientes o descartarem, queremos recuperar o produto e usar esse material para fazer novos produtos. Para mim, essa foi uma estrutura de sucesso para o design que continua a impulsionar.

SB: Do ponto de vista do sourcing, estamos realmente motivados pela recente adoção dos dez princípios do Pacto Global da ONU. Operamos a Shaw Industries e nossas unidades de negócios de acordo com esses dez princípios. Com nossa política de fornecimento sustentável, trabalhamos próximo a todos os nossos fornecedores em seu comportamento como cidadãos corporativos, para garantir transparência, propriedade e intencionalidade - fazendo a coisa certa como cidadãos corporativos globais.

Como vocês aplicam isso? Como responsabilizam seus parceiros?

SB: Esse processo de responsabilização passa pela informação dos ingredientes dos materiais. Sempre que as regras mudam, como a Proposição 65 [Lei de Água Potável e Tóxicos da Califórnia], nossos fornecedores devem nos notificar sobre qualquer item da lista que esteja em seu produto. Instituímos visitas e auditorias contínuas e analisamos relatórios de sustentabilidade. Tentamos garantir que eles estejam fazendo o que dizem que estão fazendo. E temos conversas contínuas para seguir melhorando.

Quando vocês perceberam pela primeira vez que as questões de sustentabilidade eram de extrema importância? Qual foi o seu momento ‘eureka’?

JS: Acho que vou dar uma roubadinha e escolher dois. No início dos anos 2000, ouvir o Bill McDonough falar sobre o Cradle to Cradle™ deu uma estrutura para o meu pensamento sobre sustentabilidade - e nosso pensamento enquanto organização. Desde então, estabelecemos um ótimo relacionamento com Bill e temos trabalhado com ele há mais de uma década. O outro momento que expandiu minha perspectiva foi trabalhar com a organização Public Architecture em um simpósio onde tivemos pessoas do setor bancário, organizações sem fins lucrativos, meio acadêmico, design e governo falando sobre o papel que o design pode ter na sustentabilidade, na justiça social e nos impactos sociais. Foi quando minha perspectiva realmente mudou. Comecei a ver como as intervenções de design abordando a sustentabilidade tinham significado em um nível humano, e não apenas ambiental.

Momento ‘eureka’, Shannan?

SB: Meu avô era fazendeiro. Meu pai cultivava. Eu venho de uma origem agrária, então sempre pude ver o impacto que tive como ser humano sobre um planta ou um animal. Agora, as conversas que tenho todos os dias me dão momentos ‘eureka’ - estou continuamente vendo oportunidades circulares.

Então, a responsabilidade corporativa não é apenas um slogan para você, mas está realmente incorporada no DNA da empresa?

JS: Passamos de “como reduzir nosso impacto?” ou “como fazer menos o mal?” para “como fazer mais o bem?” Como podemos redesenhar as coisas para serem positivas para o meio ambiente? Como podemos redesenhar a maneira como nos envolvemos com nossas comunidades e ampliar a definição de sustentabilidade? Para mim, nosso envolvimento com organizações como a United Way ou St. Jude está ligado à sustentabilidade e à evolução dos valores da empresa.

SB: Seguindo nessa linha, não somos apenas bons cidadãos corporativos, somos bons cidadãos, ponto final. Nós retribuímos, enquanto empresa, através da United Way, dos dias Make a Difference e do Habitat for Humanity. Também incentivamos nossos associados a serem voluntários em suas comunidades, da maneira que quiserem participar.

O que fazemos em casa afeta o planeta. Como vocês abordam questões de sustentabilidade diariamente em suas vidas pessoal?

JS: O que fazemos profissionalmente transborda para nossas decisões pessoais, certo? Queremos apoiar empresas que estão fazendo coisas que se alinham com nossos valores, seja ao comprar produtos de limpeza ou ao comer fora. Por exemplo, comemos muito fora, e frequentamos restaurantes independentes que apoiam agricultores e produtores locais. Essa é uma escolha consciente.

Como designers e arquitetos entram dessa discussão?

SB: O design atinge todo o percurso de como uma comunidade é construída. Quando um fornecedor entrega um material que é saudável e seguro, isso ajuda a criar empregos e segurança financeira para as pessoas e uma maneira de melhorar suas vidas, expandir suas famílias e melhorar suas comunidades.

JS: Vários anos atrás, teve uma edição da revista Metropolis com a manchete na capa “Architects Pollute” [Arquitetos Poluem]. 50% das emissões de gases de efeito estufa foram atribuídas às decisões que arquitetos e designers tomam. Acho que foi um alerta para todos nós. O conhecimento maior que podemos compartilhar para tomar melhores decisões e entender o impacto dessas decisões nos traz tanto uma responsabilidade quanto um senso de empoderamento. O que fazemos importa e o que os designers fazem importa. Nossas escolhas têm impactos de longo alcance em coisas como a mudança climática, como saúde e segurança humana, e o bem-estar das pessoas que estão nos prédios que estamos projetando ou para os quais estamos projetando materiais. Então, sim, há uma enorme responsabilidade, mas é empoderador tomar decisões que tenham ramificações globais e de longo prazo.