FORM US WITH LOVE

O que é preciso para fomentar uma cultura de diálogo?

A indústria do design de hoje é complexa. Seus principais ingredientes costumavam ser a atenção aos detalhes, a análise de mercado e um conhecimento técnico sólido. Porém, a ética e a construção de consenso emergem crescentemente como habilidades mais importantes para o design.

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 De um ateliê repleto de protótipos no norte central de Estocolmo, onde open critiques acontecem diariamente, pinçamos alguns aprendizados de um dos estúdios mais progressistas da indústria, Form Us With Love, participando de uma de suas reuniões semanais de revisão de projetos.

São nove da manhã e dez designers - de sete nacionalidades diferentes - se reúnem em volta de uma grande mesa em St. Eriksplan. Allon Libermann, gerente de projetos de 27 anos nascido em Boston, se preparou para moderar a sessão. É sexta-feira, dia em que os designers da Form Us With Love discutem projetos de ventures, marcas nas quais o estúdio investe - seus negócios variam de relógios a painéis acústicos. “Todas as sessões criativas são agendadas para o turno da manhã; sabemos que vamos trabalhar nos detalhes mais tarde, mas seria mais difícil ter uma reunião reveladora à tarde”, diz Allon, sorrindo. Para incitar o diálogo, ele pediu que as pessoas trouxessem estudos sobre materiais de embalagem sustentáveis, com foco em recipientes de papel reciclável e cola não-tóxica.

O dia das ventures começa com um workshop seguido de horas individuais de trabalho, quando cada designer contribui trabalhando em cima das ideias de outra pessoa. Hye Jin Ahn, designer da Coreia do Sul, desenvolveu um conceito para que a embalagem dobre antes e depois de ser usada. Ela explica o mecanismo e os demais se alimentam da ideia - rapidamente, a mesa está cheia de papel e papelão. Cerca de vinte protótipos rápidos são acumulados durante a sessão. Alguns membros da equipe serão designados para reduzir esse número para três, e o grupo todo retornará para escolher um conceito forte na próxima semana.

John Löfgren, diretor de criação da Form Us With Love, está satisfeito com o desenvolvimento da sessão da manhã. “Essa é uma típica sessão, 'tire todas as ideias dos bolsos', onde falamos sobre todas as opções possíveis e depois as selecionamos”, diz. A atmosfera é enérgica e as pessoas estão ansiosas para mostrar o que têm guardado. É impressionante observar a energia sustentada. “Nossa cultura se resume a duas coisas. Primeiro, não acreditamos no gênio solitário, acreditamos que um mais um dá três. Segundo, é importante que todos os projetos sejam democráticos, sempre vemos vantagem em trazer mais pessoas para a conversa."

O 'workshop estúdio aberto' dura três horas e, embora pareça longo, o diálogo é surpreendentemente fluido. "Uma primeira sessão tende a demorar mais, mas aplicamos ferramentas para avaliar cada protótipo e avançar rapidamente. Sempre testamos as ideias em relação a parâmetros de construção, escala, serviços, sustentabilidade, artesanato e cultura, por exemplo.” John continua: "às vezes temos que ser honestos e reorganizar uma tarefa, talvez executá-la em um grupo menor, ou simplesmente retornar a pesquisa, acontece de vez em quando, mas sempre temos métodos para acelerar".

O sol da manhã está deixando a mesa banhada de luz, fazendo o ar na sala parecer mais nítido, mais focado diante de nós. É como assistir a um grupo de atores sendo iluminado claramente em um palco. Os participantes estão concentrados e relaxados ao mesmo tempo, antecipando cada ação. “Claro que boas ideias podem surgir no meio da noite, mas nós certamente temos um método de conduzir os conceitos de maneira controlada. Pense na interseção entre cultura e indústria como um exercício de equalização, por exemplo. Primeiro, falamos sobre aspectos racionais, como o tipo de máquinas que estamos usando, e depois passamos rapidamente a discutir o impacto na vida cotidiana. Alternar entre perspectivas industriais e culturais torna a conversa concreta e menos subjetiva”, observa John.

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 O diálogo do design parece curiosamente físico do começo ao fim, esboços, protótipos e modelos servem como comunicação inicial, ao invés de ideias verbais. Você pode começar a se perguntar: a formulação verbal de seus pensamentos é a única habilidade a ser empregada ao se cultivar um diálogo?

“Você não tem que ser verbalmente talentoso, mas você tem que gostar de compartilhar coisas, seja dobrar um papel ou construir uma estrutura de algum tipo - a mentalidade de grupo é uma característica central de todos que estão aqui”, explica Allon.

Todo mês de junho, o estúdio recruta novos designers com mentes colaborativas em um Treinee Workshop de dois dias, com acomodação organizada em Estocolmo. Jovens designers promissores viajam de todas as partes do mundo para participar. “Procuramos trainees que sejam curiosos, que tenham confiança para falhar e, mais importante, que respeitem uns aos outros. Durante uma mesa redonda clássica, é responsabilidade de todos encontrar um equilíbrio criativo”, diz John.

Um dos principais projetos de empreendimento que reflete o processo de design do estúdio é um fórum chamado Prototypa - prototipagem em sueco. Esses workshops, exposições e apresentações levam o processo habitual do estúdio para a comunidade de design em uma escala mais ampla. (É mais ou menos a reunião semanal elevada ao enésimo grau.) Ao longo de vários anos, líderes, criadores, arquitetos e fabricantes de design compartilharam seus conhecimentos sobre a melhor forma de desenvolver ideias juntos, abrindo a busca pelo diálogo. “Por meio de um fórum como o Prototypa, ficamos abertos e convidamos pessoas da indústria para compartilhar. Estimamos o diálogo, e ouvir a experiência de outras pessoas é fundamental para impulsionar a indústria do design”, conclui John.

A Form Us With Love colaborou com uma série de empresas internacionais para criar produtos inovadores, incluindo uma cadeira de montagem click-lock em polipropileno e madeira para a IKEA, e o Inside Shapes, um novo sistema de carpetes para a Shaw Contract que dá aos designers um kit de ferramentas dinâmico para criar combinações individuais de cores e padrões. Outros empreendimentos notáveis incluem o BAUX Acoustic Pulp - o primeiro painel acústico 100% bio-baseado.

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